quinta-feira, 30 de abril de 2009

RELATO VERÍDICO - PARTE DA VIDA DE UM ALCOÓLICO

Cara senhora,
Como disse na primeira mensagem, fui alcoólico e deixei de beber há 29 anos. Fiquei com esse dia marcado na minha memória: 3 de março de 1980. Foi este o dia em que eu deixei de ser um desgraçado.

Eu comecei a beber quando tinha por volta de 16 anos. Aí começou a minha sina. Em 1967, fui para a tropa e em dezembro desse mesmo ano fui mobilizado para Angola. Aí então é que eu comecei ser alcoólico a sério. Durante o tempo em que estive mobilizado, eram bebedeiras atrás de bebedeiras, castigos em cima de castigos, rapadelas de cabelo, guardas noturnas, saídas para o mato, tudo isso de castigo.
E assim foram 28 meses em Angola. Vim para Portugal em 1971. Comecei a namorar a minha esposa logo que cheguei. Eu já a conhecia, porque trabalhamos juntos antes de eu ir para fora, por isso arranjei logo namoro, mas quando estava bêbado não aparecia. Casei passados poucos meses e então começaram os maus-tratos à minha esposa, principalmente nos fins-de-semana levava porrada na certa, pois tudo tinha defeito: ou era o almoço ou o jantar.

Em suma, nada estava bem até que começamos a ter filhos. Então eu comecei a ver o desgraçado que eu era para a mulher e filho. Começava a chorar quando estava sóbrio ou de manhã quando acordava, até que numa segunda-feira de manhã eu estava doente e disse a minha esposa para ela me chamar um médico a casa. Então, a minha mulher disse-me que só chamava se eu dissesse a verdade ao médico. Então, eu disse que diria que queria deixar de beber. Veio, então, o médico à minha casa e perguntou-me se eu queria deixar de beber, eu disse que sim, mas que não conseguia.
Ele disse-me que tinha um médico amigo que trabalhava no hospital de S. João, no Porto, e que se eu quisesse ele me ajudava. A minha esposa disse-lhe que trabalhava lá no hospital. Então, ele deu um cartão de visita para ela entregar a um médico psiquiatra, mas a minha mulher conhecia esse médico.

Então, eu fui fazer uma desintoxicação durante um mês e ao fim de um mês o psiquiatra disse-me que eu estava limpo e se eu quisesse beber, era comigo, ele já não podia fazer mais nada por mim. Eu disse que não beberia mais na minha vida.
Assim foi, não voltei a beber. Deus tenha esse psiquiatra no céu, pois já morreu.
Com os meus mais respeitosos comprimentos.
Manuel Macedo

3 comentários:

Maria Isabel Nunes disse...

Que relato emocionante. Sr. Manuel, que luta! Que vitória! Parabéns!

Meu cantinho... disse...

Humm que interessante ! Você renasceu em 1980 quando parou de beber , e meu pai faleceu neste mesmo ano por causa do alcoolismo.
Eu acho que ele não teve paciencia , e nenhuma fé positiva .É ele foi um suicida , literalmente falando ....mas gostaria mesmo de poder tido a oportunidade de ver ele contando uma história assim parecida com a sua ....mas ele não teve paciencia .

Anônimo disse...

Lou,
O artigo que fala sobre vícios e também os depoimentos dos ex-viciados, foi muito oportuno; uma ótima idéia dos colaboradores deste Site. O alcoolismo é uma "droga liberada", mas destrói muitos indivíduos, as suas famílias e até mulheres. Conheço caso de viciadas em bebida alcoólica que nunca conseguiram se recuperar e "marcaram" famílias inteiras principalmente aos seus filhos. Desejo excelente semana para você e para os nossos queridos amigos. Beijos, Dilma Faria Terra.